Professor Antônio Sérgio e o atleta Raifran Mesquita |
Um caso de violência gratuita tirou a chance do atleta paraolímpico, Rayfran Mesquita, de disputar o Mundial da Turquia, em abril deste ano. O jovem, de 18 anos, que é o único e o primeiro atleta do gênero da Região Norte do Brasil a ser convocado para o campeonato, foi agredido na rodoviária de Canaã dos Carajás. O motivo: o fato de ser cego. Um corte na mão, que se estendeu até o pulso, impossibilita seu desempenho no judô, no Mundial. O caso está sendo apurado na delegacia do município.
Segundo o treinador de Rayfran, Sérgio Soares, o caso aconteceu por volta das 15h30 da quinta-feira (10), quando o atleta tentava voltar de uma visita à casa da irmã, para Parauapebas, onde mora.
Mesquita foi até a rodoviária do município e solicitou a emissão de seu passe livre. Inicialmente a atendente da cooperativa de vans emitiu o documento, mas depois tentou desfazer a operação. “Quando ele já estava sentado esperando a van, ela retornou e mandou que ele devolvesse o passe porque não tinha direito ao benefício. Ela disse ainda que ‘cego não era bemvindo nessa cidade’”, informou o treinador Sérgio Soares.
O atleta reagiu às ofensas reivindicando seus direitos e, sob protestos, disse que pagaria a passagem. “Mas eles queriam colocar o Rayfran na última van”, denunciou o treinador. Diante do fato e das reclamações do atleta, o dono da cooperativa, dois motorista e a atendente, repetiram os comentários ofensivos. “Eles disseram que cego não era bem-vindo na cidade, e o motorista disse que nenhum cego andaria na van dele”, reclamou.
No calor da discussão, os funcionários da cooperativa passaram a agredir o atleta, segundo informou o treinador. “Eles começaram a empurrar o Rayfran de um lado para o outro e em um desses empurrões ele, como é cego total, ficou sem noção de espaço, e se apoiou no vidro do guichê, onde cortou o dedo da mão direita até o pulso”, lamentou o treinador. O corte foi profundo e houve necessidade de fazer vários pontos.
Na hora do incidente, Rayfran estava em companhia da irmã e de uma sobrinha de 4 anos. Segundo o treinador, na tentativa de defender Rayfran, a irmã dele também foi agredida, com um tapa no rosto.
Ainda segundo o treinador, os agressores, ao todo quatro, ainda tentaram invadir o hospital municipal de Canaã dos Carajás, onde o atleta foi atendido, fato que foi contornado com a chegada de policiais. “Isso é uma vergonha! É revoltante para nós! Puro ato de selvageria, sadismo!”, desabafou o treinador.
Com o ferimento, Rayfran Mesquita, não tem condições de participar do
Mundial da Turquia. Segundo seu treinador, o caso foi informado imediatamente ao Comitê Paraolímpico Brasileiro, que o cortou da Seleção. Rayfran já estava com viagem marcada para São Paulo, onde iria começar os treinamentos para o Mundial, que acontece em abril, na Turquia.
‘”Ele é o único atleta do norte do País e o primeiro convocado para uma seleção brasileira. Estava se preparando há dois anos para isso. Não é porque é um atleta, mas é um deficiente visual. Denunciamos porque queremos que isso não aconteça mais aqui e em nenhum lugar do mundo. Essas pessoas pagam impostos, tem direito de ir e vir. Aqui não é terra sem lei”, desabafou o treinador Sérgio Soares.
O caso foi registrado na delegacia de Canaã dos Carajás na manhã desta sexta-feira (11) O atleta já fez exame de corpo de delito e os acusados ficaram de ser ouvidos ainda ontem. (Portal ORM)
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