terça-feira, 26 de julho de 2011

Carente de futebol arte, Brasil lembra Telê, que faria 80 anos nesta terça

Telê Santana pode não ter inventado o “futebol bonito”, tão idolatrado internacionalmente por todos os amantes deste esporte, mas se a seleção brasileira um dia foi conhecida por esse jeito peculiar de fazer arte com a bola nos pés, ele com certeza tem bastante responsabilidade nisso. Acima dos títulos, o legado do treinador, que estaria completando 80 anos de idade nesta terça-feira, foi, principalmente, de uma filosofia de jogo.

Era como se a vitória, principal objetivo de qualquer esporte, ficasse em segundo plano quando o time de Telê estava em campo. Ele privilegiava, mais do que qualquer coisa, o espetáculo. Vencer seria uma conseqüência – ou uma recompensa – de uma bela atuação dentro das quatro linhas. Só que a estratégia do treinador nem sempre funcionou perfeitamente, e foi assim que ele viu a seleção brasileira, sob o seu comando, sucumbir em duas Copas do Mundo (em 1982, para a Itália e em 1986, para a França), mesmo encantando o público com o mais belo futebol.

Mas felizmente a história de Telê Santana não ficou apenas nas derrotas com a seleção brasileira. Antes mesmo de assumir o time principal do Brasil, Telê fez história no Fluminense, tanto como jogador quanto como treinador. O 'Fio de Esperança' era considerado um atleta moderno nos anos 1960 por sua postura tática. É o terceiro maior artilheiro da história do clube das Laranjeiras com 162 gols. Foi bicampeão do Carioca (1951 e 1959) e também do Rio-São Paulo (1957 e 1960).

Já como treinador, conquistou o Estadual do Rio em 1969 antes de chegar ao Atlético-MG. Em Minas, ganhou o único título brasileiro do clube, em 1971. Com duas passagens pelo Galo - de 1970 a 1976 e de 1987 a 1988 - ele foi o técnico que mais dirigiu o Atlético em jogos oficiais.

A fama de “pé frio”, que surgiu com os maus resultados nos dois Mundiais, deixou o técnico de vez quando ele conquistou, comandando o São Paulo, as competições internacionais mais importantes da história do time: o bicampeonato da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes. Foi no tricolor do Morumbi que Telê se tornou quase que um patrimônio do clube, sendo lembrado até hoje pelos torcedores que, vez ou outra, fazem ecoar o nome do treinador nas arquibancadas do estádio, saudosos dos tempos em que podiam contar com o “Mestre Telê” no banco.

Também foi no São Paulo que Telê Santana teve o seu principal “discípulo” no futebol, Muricy Ramalho. O técnico, que conquistou quatro dos últimos cinco Campeonatos Brasileiros, foi auxiliar dele de 1994 a 1996 e sempre cita a influência daquele que chama de “Mestre” em sua carreira profissional. Mesmo sem adotar a filosofia tradicional do “futebol bonito” de Telê nos times que comandou, Muricy não deixa de reconhecer a importância dos ensinamentos dele, chegando, inclusive, a dedicar o título nacional conquistado no ano passado pelo Fluminense ao técnico. Nada mais justo, já que o tricolor carioca era o time do coração de Telê, que fez sua carreira como jogador nas Laranjeiras na década de 50 e foi o terceiro maior artilheiro da história do clube.

“Ele foi muito importante, porque era o começo da minha carreira, o momento que eu estava definindo que queria ser um técnico. É tudo o que uma pessoa precisa para se espelhar. Eu tive a sorte de ter o Telê, primeiro como treinador, e depois como meu Mestre, no que diz respeito a ser técnico. Ele deixou um legado muito grande”, definiu Muricy.

Telê Santana faleceu há cinco anos, no dia 21 de abril de 2006, vítima de uma isquemia cerebral, mas os discípulos que ele deixou foram apenas uma parte do seu legado para o futebol brasileiro. O estilo ‘cadenciado’ de jogo que Telê implementou em suas equipes, fossem elas formadas por grandes craques como Sócrates, Falcão, Zico e Dinamite, ou por jovens talentos com Raí, Cafu e Leonardo, já ficou marcado na história e é reconhecido pelos torcedores das gerações mais antigas até as mais recentes. Se o “futebol bonito” está tão em falta nos times brasileiros e, inclusive, na seleção hoje em dia, é certo que a presença de Telê Santana, mesmo aos oitenta anos de idade, poderia mudar essa realidade. (ESPN)

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